Projetos eternos
Viva. Esse projeto saiu da gaveta. Escrever esse e-mail estava nos meus planos desde muito tempo. A tal da newsletter já entrou no hype, saiu do hype, nem sei onde está mais, mas consegui celebrar esse nascimento só hoje.
Escrever não é algo difícil para mim. Vivo escrevendo e publicando por aí. Mas sempre em nome de outras pessoas. Sou a palavra de muita gente, que não tem o dom da palavra (não que eu tenha, mas me pagam para isso, né?). Dou voz a ideias confusas, que acabam se misturando e não sei até onde sou eu e até onde são eles.
Mas aconteceu, estou aqui, escrevo.
A gente tem a mania de colocar um peso enorme nos próximos passos. Quer dizer, não sei você, mas eu sou assim. Me engano, acreditando na eternidade dos projetos. Como penso que o próximo será para sempre, eu postergo até o momento perfeito chegar. Sendo que na verdade o eterno é o nada.
Bom, não sei onde isso vai dar, mas aconteceu, estou aqui, escrevo.
Tenho no bloco de notas do celular uma lista de blogs, newsletter, espaços digitais e até físicos em que eu queria estar publicando. Eu olho para a lista e ela me encara de volta e nada verdadeiramente acontece.
Mentira, muita coisa acontece, mas nada que eu considere digno o suficiente para justificar a minha bio do instagram “jornalista, escritora, redatora”. Quem estou querendo enganar?!
Pois bem, vou compartilhar com vocês (e provar para mim) que minhas aspas estão espalhadas por aí. Começo com um texto antigo, fruto de um exercício de olhar a minha volta objetos que ordinariamente me tocam todos os dias:
Sempre escutei as histórias admirada com a coragem de uma mulher, nos anos 80, se aventurar pelo mundo sem a companhia de um homem, conhecendo as culturas e trazendo na mala lembranças em fotografias, roupas, bolsas e pinturas.
- Trecho do texto “As Pinturas Parisienses”
Lembra que eu disse que minhas palavras estão por aí, mas soltas, sem nenhuma assinatura para eu sofrer as consequências da minha mente? Vou aproveitar o fluxo e compartilhar também meu último texto no blog da alveare e o primeiro que explicitamente dei meu nome:
Ela chegou ofegante e nem bem entrou na minha sala e já desabou. Um oficial de justiça tinha acabado de lhe entregar uma intimação a acusando de alienação parental. Aos prantos, a mãe me mostrava as conversas no whatsapp com o pai de sua filha, as vezes em que ele prometeu sua presença e não apareceu, todas as despesas nunca divididas e as chantagens emocionais que ele praticava com ela e com a criança de 8 anos.
- Trecho do texto “Alienação parental em defesa de quem?”
Aqui é o espaço para eu compartilhar onde gasto o meu tempo procrastinando o que realmente eu deveria estar fazendo.
Bom, para começar, tenho passado mais tempo do que deveria reassistindo Mad Men, com aquele ar cheio de fumaça de cigarro das agências dos anos 1960 e um gole generoso de whisky para descer a misoginia e o racismo da época. Apesar dos muitos pesares, eu amo a coragem e ousadia das Mad Women e vibro a cada atitude inesperada, que muito se relaciona com as pinturas parisienses ali de cima.
Estou fingindo que estou lendo o Falso Espelho. Não é que não gostei, é que não comecei ainda, mas ele está na minha cabeceira e todo dia finjo que leio mais um tiquinho.
Estou realmente lendo (e fazendo) o Caminho do Artista. O livro foi lançado em 1992 e tem muita coisa que acho que precisa de atualização, mas sigo na minha jornada da criatividade, fazendo careta para certas atividades, mas curtindo muito de modo geral. Uma das tarefas que mais amo é o “encontro com o artista”. É quando a gente se dá a permissão de tirar um tempo para fazer o que a gente quiser, sem se culpar com isso. Precisa de um exercício de um livro para a gente fazer o que quiser? Na verdade não, mas acho que não estou sozinha quando digo que às vezes tenho a impressão de viver naquelas rodinhas de hamster que se a gente para, tudo para a nossa volta (trabalhe enquanto eles dormem, blablabla).
Minha última proeza da qual quero compartilhar (e que tudo tem a ver com o Caminho do Artista) é que eu comecei a pintar aquarela. Comprei um kit infantil, tive umas leves crises que se relacionam com o fato de eu também achar que o projeto seria eterno (e por isso deveria dominar a arte) e, passado o chilique, eu efetivamente comecei a pintar. Tenho me divertido bastante.
É isso. Acabou e nem doeu.
Não se ou onde isso vai dar.
Mas aconteceu, estou aqui, escrevo.
Até mais,
Carol.