Sobre o dito e o não dito
Na escola minha matéria preferida era história. Eu amava acompanhar como um fato desencadeava outro e outro e outro e estamos aqui.
Para mim era fácil entender, porque tudo se desenrolava em uma narrativa única, um verdadeiro romance.
Resolvi estudar jornalismo. O fato de transformar acontecimentos em narrativas é algo que verdadeiramente me encanta. Porém, foi na faculdade que comecei a me dar conta da problemática que envolve o fato de que quem conta uma história tem o poder de ocultar aquilo que lhe convém.
No mestrado eu peguei uma matéria no departamento de história sobre estudos feministas e isso se escancarou. Tem até uma teoria que é para estudar sobre a história do mundo que não é registrada nos livros didáticos, como a história das mulheres.
Por isso, seja ao estudar a história da humanidade ou stalkear o story de alguém é preciso levar em conta aquilo que não é dito.
Aquilo que não é dito silencia a história de muitas pessoas. Aquilo que não é dito é uma história inteira.
Não tenho dito, mas estou escrevendo um livro. Estou na fase final deste enorme texto que tem como objetivo resumir a minha pesquisa de mestrado que é sobre o dito e o não dito. Estudei as letras de mulheres rappers buscando perceber se havia ali um incomodo do seu silenciamento na cultura de rua.
Esse processo está sendo aterrorizante, intimidador e lindo. Compartilho com vocês a minha última publicação deste gênero, que fala um pouco sobre como o silêncio não pode ser interpretado como submissão, ele apenas é o não dito:
Enquanto há opressões e definições estereotipadas externas, internamente há o ato revolucionário da autodefinição, do entendimento que a diferença entre objeto e sujeito está no autoconhecimento e que, ao se tornar consciente da sua própria história, as mulheres podem se definir a partir da sua própria realidade.
Trecho do texto “Sistema Feminino: resistências femininas no rap”
Tenho dito: todo mundo também está exausto. O meu último e-mail foi o mais lido e não acho isso uma coincidência. Mas é isso, as vezes a gente precisa de um tempo para colocar as coisas no lugar internamente e voltar a ver o bom da vida.
Confesso que eu fiz cara feia para o livro Falso Espelho (que ainda estou lendo), mas agora eu super indico: textos incríveis, cheios de pesquisa e com uma escrita simples, o tipo de jornalismo que eu gosto.
Se você ainda não ouviu, vai escutar o episódio de Mano a Mano com Sueli Carneiro, uma mulher foda que tem muito a dizer sobre aquilo que não é dito. Eu sou suspeita, porque o meu último capítulo (do livro e do mestrado) só tem ela, mas se você não a conhece, vale a pena aprender muito com seus textos, aulas e vida.
Termino aqui indicando uma newsletter de uma amiga sobre moda. Eu sou uma negação nessa área, mas ela deixa tudo mais fácil e harmonioso, eu amo tudo o que é dito por ela.
O que não tenho dito aqui é que apesar da minha escrita ser um pouco dramática, tenho curtido muito escrever para este espaço.
Obrigada por estar aqui :)
Até mais,
Carol.