Sobre ser mulher
Na última semana eu evitei ao máximo utilizar as mídias sociais. Meu coração acelerava, os pensamentos embaralhavam e eu não conseguia ler uma mais palavra sobre o que estava acontecendo.
Parecia que era comigo, que era pessoal. Eu não sei nem de perto o sentimento, mas eu sentia uma pontada a cada tweet publicado ou story compartilhado.
Mas não pode ser só isso. Não pode ser só aceitar que a gente vive em um mundo onde acham que têm o direito de nos expor em threads enquanto uma guerra de opiniões começam nos comentários. Não pode ser só achar que nada adianta de nada e todo o esforço é em vão. Não pode ser só saber que pode acontecer com qualquer uma de nós e esperar o momento chegar. Não pode ser só ficar calada, fugir e fingir que nada está acontecendo.
Eu sei que não estou fazendo muito sentido nesse texto, mas isso é muito do que eu estou sentindo. Eu quero correr, ao mesmo tempo que eu quero lutar. Eu quero me abster, ao mesmo tempo que eu quero gritar.
Existem muitas experiências distintas que nos atravessam enquanto mulheres, mas a experiência em comum é essa tortura de nos julgarem pelo gênero que temos.
Por isso, por mais que a gente queira, não dá para fugir ou ficar calada.
O que nos resta é lutar e gritar.
A vontade era fugir de todas as notícias que chegavam até a mim (eu realmente estava me sentindo fisicamente doente), num salto do sofá e em uma sentada só eu escrevi aquilo que eu estava querendo tirar de mim. Eu queria gritar que não é com uma, é com todas; que não tem nome, sobrenome, que não tem cara.
Compartilho a minha publicação no jornal A Gazeta (onde eu não queria citar nomes, mas a sede de um veículo hegemônico por clickbait inseriu as reportagens das quais eu queria fugir):
A ideia naturalizada da construção de uma mulher ideal, permite que toda uma sociedade ache que tenha direito de opinar sobre o seu corpo, suas atitudes e decisões. Reforçada diariamente na televisão, nos filmes e músicas, essa erotização da dominação faz entender que o corpo feminino é de domínio público e influencia de maneira implícita esse número alarmante de violência contra mulheres.
Trecho do artigo “Por que querem controlar nossos corpos?”
Não está fácil. Enquanto no Brasil a gente segue lutando pelo direito da liberdade reprodutiva, nos Estados Unidos a gente percebe a volatilidade desses direitos. Nesta última semana ajudei na edição de um texto no Blog da Alveare de autoria da minha amiga Laura, presidente da ONG, que discute o tema.
Mais uma notícia ruim, Laura também me alertou para notícias que mostram o uso de dados de aplicativos de monitoramento do ciclo menstrual para vigiar e punir mulheres que tenham feito abortos. Aterrorizante.
Por falar em terror, estou apaixonada pelo podcast A Mulher da Casa Abandonada. Nada tem de sangrento, espíritos ou qualquer outro clichê do horror, mas nem por isso a história deixa de ser um absurdo apavorante. O podcast é tudo isso que estão falando mesmo, tanto do ponto de vista da investigação como da narrativa. Dá até uma vontadezinha de fazer algo do tipo (quem topa?).
Para terminar a semana com o que resta de felicidade, ontem foi meu aniversário e ganhei um estojo de 36 cores de aquarela. Agora vou ter pintura de sobra para compartilhar!
Não está mesmo fácil, mas seguimos juntas.
Até mais,
Carol.