Sobre primeiras vezes
Escrevi a minha primeira cena esta semana. Corri minha primeira corrida de rua este mês. Pintei minha primeira pintura este ano.
Se você está aqui deste o início, você deve se lembrar dos projetos eternos (mas vou te relembrar mesmo assim). Eu tenho a percepção completamente equivocada de que o meu próximo projeto será para sempre. Se eu for escrever um roteiro, serei para sempre roteirista. Se eu for correr uma corrida, serei para sempre maratonista. Se eu for pintar um pintura, serei para sempre pintora.
Tudo coisa da minha cabeça. Tudo para que o meu perfeccionismo espere que todas as variáveis possíveis estejam perfeitamente alinhadas para aí sim eu começar algo pela primeira vez. Tudo coisa da minha cabeça.
Comprei um curso de roteiro há um ano e nunca o tinha feito. Corro há pelo menos três anos, mas nunca tinha participado de uma corrida. Tenho vontade de pintar há uns cinco anos, mas nunca tinha pintado.
Ainda bem que as primeiras vezes existem e que elas não são para sempre.
Escrever sempre esteve em mim, mas publicar sempre esteve longe de mim. Por isso, lá no fundo, esta parte do e-mail é tão importante. É o momento em que eu deixo o medo das primeiras vezes de lado e divulgo algo meu nunca antes compartilhado.
O texto da vez é uma reflexão do meu processo de escrita. Como que algo que eu vivo para fazer está tão longe de ser algo que eu faço para viver:
Viver de escrita pra mim um mito. Algo tão inatingível que nem ouso a dizer que é distante. Escrever para mim é organizar o pensamento. Mas para organizar qualquer coisa o primeiro passo é a curadoria. Tira tudo da gaveta e coloca em cima da mesa, tira tudo do armário e coloca em cima da cama. É neste processo de saber o que você tem e o que não tem que aquilo que tava guardado lá no fundo, que você nem lembrava da existência, ganha potência e fica visível, em cima do montante de roupa que você acessa todo dia.
Trecho do texto “Escrevo sem saber ao certo como vai terminar”
Fiz um curso de roteiro pela primeira vez. Eu tenho uma ideia bem limitante de que eu não consigo contar uma história: ou a pessoa não entende o que eu estou contando, ou eu me perco e não consigo terminar de contar. Mas, pela primeira vez, eu escrevi uma história ficcional e foi incrível, mesmo a história não sendo tão incrível assim. Sabe o melhor de tudo? Isso não significa que eu sou uma roteirista e eu posso seguir errando sem medo.
Comecei um novo livro. Já comentei que o meu livro é sobre mulheres no rap, cultura urbana e popular. Agora estou lendo um livro sobre mulheres no samba chamado “Canto de Rainhas”. To bem no comecinho, mas amando cada página.
Você conhece a Alveare? Ela é uma ONG em que eu trabalho, que atua em prol do direito reprodutivo feminino. Essa semana eu fiquei bem comovida com as notícias sobre a pressão judicial para uma criança de 11 anos vítima de estupro desistir de abortar, fiquei bem tensa mesmo. Por isso acho importante compartilhar um pouco do trabalho da Alveare e se vocês puderem, e quiserem, compartilhem também.
Ainda bem que no final de maio eu decidi publicar um desses e-mails pela primeira vez.
Estamos comemorando um mês :)
Até mais,
Carol.